A destrutiva infantilização do Rio Grande
- Miguel Rossetto
- 29 de fev. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de mar. de 2024
Ontem, o vice-governador Gabriel Souza publicou um vexatório artigo no qual compara o RS a uma criança de três anos e meio que estÔ cruzando a etapa das fraldas

Ontem (28), o vice-governador Gabriel Souza publicou um vexatório artigo no qual compara o RS a uma criança de três anos e meio que estÔ cruzando a etapa das fraldas (sic). A isto chegou o debate público no estado do Rio Grande do Sul.
A constrangedora infantilização do debate polĆtico nĆ£o se limita ao exótico exemplo escolhido, mas Ć pretensĆ£o de lidar com o pĆŗblico como crianƧas incapazes de um raciocĆnio minimamente complexo. Para justificar o aumento de impostos dos decretos governamentais, o vice elenca trĆŖs razƵes. E elas sĆ£o inacreditĆ”veis.
Primeiro, é o fato de que hÔ apenas três anos o funcionalismo começou a receber em dia, depois de 57 meses de atraso. Não diz que todos estes meses eram dos seus governos. De Sartori, do seu partido, o MDB, e do próprio Leite, do qual é vice. à ou não subestimar o público?
Segundo, a queda da arrecadação estadual por conta do ato eleitoral de Bolsonaro. NĆ£o diz que Lula jĆ” compensou estados e municĆpios e as alĆquotas estaduais foram reajustadas. Terceiro, a retomada do pagamento da dĆvida com BrasĆlia; novamente nĆ£o fala que foi o governo Leite que assinou este acordo com Bolsonaro e anunciou na campanha eleitoral, e depois dela, que o Rio Grande estava ajustado.
Mas alĆ©m dos infantis argumentos do vice-governador, hĆ” uma realidade sombria. Os aumentos de impostos nos alimentos aumentarĆ£o a cesta bĆ”sica (Dieese) de R$ 739,18 para R$ 802,40. A cesta bĆ”sica que jĆ” Ć© a mais cara do paĆs ficarĆ” ainda mais cara aumentando o gasto das famĆlias.
O impacto sobre a economia tambĆ©m nĆ£o tem nada de infantil. As cadeias de alimento (a maior do estado com 22% da produção e 21% do emprego) e a cadeia das mĆ”quinas e implementos (com 20% da produção e 17% do emprego) sofrem impacto direto com ameaƧa de fechamento de unidades e mudanƧa para outros estados. Ć uma espĆ©cie de guerra fiscal ao contrĆ”rio, na qual as aƧƵes do governo expulsam empresas ao invĆ©s de atraĆ-las. Somente nessas duas cadeias sĆ£o 264 mil empregos em jogo.
Dada a gravidade da situação e puerilidade das anÔlises oferecidas, é de se perguntar: sobrou algum adulto no governo?